A Revolução Industrial, ao contrário do que muitos pensam, provocou conflitos devastadores em seus anos iniciais na Inglaterra e depois em outros países da Europa. Do dia para a noite, negócios de fundo de quintal foram inviabilizados pela lógica da produção em grande escala. A necessidade de ter um ofício e renda estimulou, por parte dos excluídos, a busca de saídas para que pudessem se manter ativos no mercado. Essa é a célula criadora do cooperativismo, que nasce com 28 tecelões no bairro de Rochdale, em Manchester.
Poucos poderiam imaginar que dali sairia uma das mais brilhantes invenções humanas e que na atualidade integra mais de um bilhão de pessoas no mundo, disse durante a última das quatro palestras do Conexão Empresarial 2013, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. O projeto nasceu e cresceu como uma espécie de terceira via entre o comunismo e o capitalismo e hoje alcança o status de ponte entre o mercado e a felicidade, conforme definiu o conferencista.
"A participação das cooperativas, dos mais variados segmentos e tamanhos, transcendeu fronteiras. Ela é instrumento de integração com a comunidade e com o desenvolvimento social e econômico", afirmou Roberto Rodrigues. O segredo do sucesso está em ser uma doutrina inclusiva e por assumir a condição de ferramenta de paz e de democracia. "O modelo corrige o social a partir do econômico e é perfeito aos países emergentes, como o Brasil, que precisam praticar o idealismo e a solidariedade". Mas para que uma cooperativa dê certo, alertou, é indispensável a conjugação de alguns fatores, como de ser necessária, ter viabilidade econômica e de a comunidade manifestar espírito associativista.
Agronegócio
O ex-ministro mostrou também, durante sua exposição, as razões que fazem dele uma das maiores autoridades mundiais em agronegócio. Rodrigues apresentou dados, informações e interpretações que mostram os motivos do sucesso e da contínua expansão do agronegócio, principalmente do brasileiro, considerado um dos mais eficientes e dinâmicos do mundo. No Brasil, ele responde por um quarto do PIB, por um terço dos empregos e das exportações. A área dedicada ao cultivo de grãos aumentou 40% de 1990 a 2012, a produtividade expandiu 128% e a produção cresceu 220%.
O Brasil foi o país do mundo que fez a maior revolução tecnológica na agricultura em tão pouco tempo. "Alcançamos a economia de 68 milhões de hectares e isso é sustentabilidade", afirmou Roberto Rodrigues. O avanço também ocorre no setor de carnes. Na área de bovinos, a evolução foi de 88%, na de suínos de 238% e na de frangos de 458%. E tudo isso em apenas duas décadas. O agronegócio é o único setor que continuamente melhora sua posição no ranking da balança comercial, ao contrário de outros. Em 2002, o volume de exportações da cadeia produtiva que tem base em atividades rurais foi de US$ 25 bilhões e em 2012 chegou a US$ 96 bilhões.
Há mudanças também no cenário de parceiros do Brasil nesses 20 anos. A participação dos Estados Unidos e da União Europeia nas exportadores brasileiras era, há dez anos, de 55% e agora está em 30%. No entanto, cresceu a de outros países, principalmente da China que saltou de 5,5% para 19%. "Os emergentes estão comprando mais porque é lá que está o maior avanço em população e renda", conforme Roberto Rodrigues. Ele deu outro dado: 87% da futura população mundial nascerá nos países em desenvolvimento.
Diante de um cenário de nove bilhões de pessoas até 2050, o mundo precisará ampliar a sua produção de alimentos em pelo menos 50% e o Brasil é aquele que reúne as melhores condições para atender a essa necessidade, com crescimento previsto para o período em 40%. Os estoques mundiais de alimentos eram suficientes, no ano de 2000, para atender a demanda da população para 107 dias e agora responde apenas por 50. O impulso na produção de comida é uma questão de segurança alimentar e disponibilidade de alimento é condição fundamental para a paz, observou o ex-ministro.
Há um outro aspecto que conspira a fator do Brasil no contexto. Aqui, 44,1% da energia gerada é renovável, enquanto que nos desenvolvidos é de apenas 7%. "Diferente do que ocorre nas nações do primeiro mundo, temos jovens que buscam especialização e focam o campo como oportunidade de emprego". O Brasil tem disponíveis 851 milhões de hectares de terra, mas apenas 8,5% disso, ou 72 milhões são agricultáveis. Aqui há 61% do território com matas nativas, enquanto que na Europa o índice é de apenas 1%.
"No entanto, também temos nossos conflitos a resolver. Dos 85,7 milhões de hectares que ainda poderiam ser cultivados, 70 milhões estão envolvidos em questões ligadas a indígenas, quilombolas e outros. Por tanto, sobram 15 milhões para cultivos, mas em compensação contamos com as melhores tecnologias do mundo para plantios em áreas tropicais", segundo o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.
A importância do agronegócio pode ser medida por outra informação: a metade dos dez principais problemas do mundo terá, em 50 anos, solução a partir do campo. São eles: energia, água, alimentos, meio ambiente e combate à pobreza. Rodrigues citou como desafio nacional vencer gargalos que limitam e tornam cara a produção de commodities, como problemas com armazenamento, rodovias, ferrovias e portos, além de políticas de crédito rural, de questões institucionais e da urgência de maior valorização a centros de pesquisa.
O Brasil precisa também de acordos bilaterais e regionais. "Não temos nenhum, enquanto que o México conta com 60". Por que isso é importante, perguntou Roberto Rodrigues, que deu a resposta em seguida: 40% do comércio de alimentos no mundo já ocorre a partir dessas parcerias. No fim, o ex-ministro fez uma correção histórica: "Pero Vaz de Caminha relatou à coroa portuguesa que, no Brasil, em se plantando tudo dá. Não é verdade, porque apenas 7% do território tem terra boa, no resto é o trabalho dedicado do agricultor e as tecnologias que tornam o solo exemplarmente produtivo".
Legenda: O ex-ministro Roberto Rodrigues é considerado um dos maiores conhecedores da agropecuária brasileira
Crédito: César Machado/Vale Press